sábado, 11 de abril de 2009

Não há Mocinhos nem Vilões



Hoje saiu na Veja online uma matéria do Marcelo Marthe criticando a novela das oito por demonizar os pais, através das histórias do Zeca e do Tarso... Uma amiga me enviou o link. Com todo respeito às opiniões diferentes, permito-me discordar e discorrer sobre isso... O título da matéria do Marcelo é "Família é a Vilã". Pretendo aqui discutir que, no que tange à loucura, não há necessariamente mocinhos nem vilões.
Tudo o que somos tem a ver com o que vivemos e nos identificamos subjetivamente ao longo da vida. Assim, somos o que fizemos daquilo que fizeram conosco. Nossas relações com tudo e todos e, significantemente com nossos pais, têm fundamental importância em nosso amadurecimento emocional.
A novela Caminho das Índias com seus personagens Zeca e Tarso em nada pretende demonizar pais, mas suscitar reflexões. Como já escrevi em outra postagem, acredito que vivemos numa época de falência do processo civilizatório, o qual pretende controlar os instintos de todos os homens. Zeca revela uma família que o cria sem limites, mas uma escola que também mostra suas dificuldades ao não conseguir produzir nele e em seus pais uma mudança de posição. A falência é de todos e a denúncia interessa para que possamos pensar.
Agora enfocando principalmente o personagem Tarso, digo que seu quadro de esquizofrenia não pretende apontar que a loucura é causada pela família. O próprio Tarso demonstrou sua impossibilidade de sair do controle dos pais. Sua irmã Inês encontrou um caminho, ainda que bizarro. Ele não. O sujeito tem a ver com sua própria loucura, assim como esta tem conexões com aquilo que vivenciamos com nossos pais, amigos, projetos, amores. As causas da esquizofrenia ainda não foram totalmente elucidadas. Supomos tratar-se não de uma doença única, mas de uma síndrome com diferentes etiologias. Um modelo explicatório aposta em determinantes biológicos, emocionais e sociais. Melissa e Ramiro, pais de Tarso, contribuíram com suas pressões para a loucura do filho, mas não foram seus causadores. Eles amam o Tarso e nunca quiseram seu mal. Apenas não levaram em conta os desejos do filho e não avaliaram as conseqüências de suas estranhas formas de amar. Muitos pais fazem isso e a novela serve de alerta. Isso esclarece e não demoniza!
Um contraponto importante vem da família de Ademir, o outro personagem que sofre de esquizofrenia. Sua mãe é extremamente participativa, compreende seu filho, o apóia em tudo e valoriza sua conquistas. Ainda assim, Ademir enlouqueceu... Outras questões provavelmente atravessaram seu caminho e o levaram a uma encruzilhada emocional e ao enlouquecimento. Portanto, a novela mostra diferentes processos e evidencia a multiplicidade de fatores envolvidos no desencadeamento de um quadro psicótico.
O maior objetivo de Glória Perez e de toda a equipe da novela é ajudar a diminuir o estigma contra aqueles que sofrem com esquizofrenia. Isso é um grande mérito. Glória se deixou tocar e sensibilizar por um tema bastante difícil. Demonizar quem quer que seja está longe de ser a proposta da trama, ela quer justamente o contrário... Humanizar os loucos, mostrar seu sofrimento e o de suas famílias, demonstrar o processo de enlouquecimento, enfatizar a possibilidade de recuperação pelo viés do tratamento e apontar as capacidades das pessoas que sofrem com transtorno mental.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bela postagem,elucidativa,colocando com precisão,os objetivos da novela.

A família ,às vezes,em querer demonstrar seu amor, o faz de maneira sufocante.É o que acontece com Melissa, e, no contraponto o rigor do amor de Ramiro.Os pais querem sempre o melhor para os filhos,e, às vezes o fazem de maneira atravessada,gerando o conflito que o Tarso sofre, já tendo uma personalidade doentia..

Cristina vita disse...

Olá Drª,ele é paciente de Dr. Alan Dias ( atendimento na Tijuca rj) meu marido é portador de esquizofrenia e estou aqui p/ dizer que me emociono a cada cena do Tarso, pois lembro de tudo que passei, e acho mt importante esta bandeira se levantada pois o preconceito é mt elevado. Meu marido é oficial das forças armadas e foi reformado neste mês. Ele é mt inteligente possui QI elevado, mt parecido com o personagem, atualmente demostra ser um guerreiro faz 3 faculdades!! Uma federal a distancia, outra presencial e pós graduação. Tenho mt admiração por ele e o amo demais, apesar de ser uma pessoa como ele é, mas confesso que isso é um segredo para mts da nossa convivência, pois o derrespeito é demais, não quero ninguem chamando meu marido de louco. catia-cris@ig.com.br

cristina vita disse...

Olá Drª,meu marido é portador de esquizofrenia, ele é paciente de Dr. Alan Dias ( atendimento na Tijuca rj) e estou aqui p/ dizer que me emociono a cada cena do Tarso, pois lembro de tudo que passei, e acho mt importante esta bandeira se levantada pois o preconceito é mt elevado. Meu marido é oficial das forças armadas e foi reformado neste mês. Ele é mt inteligente possui QI elevado, mt parecido com o personagem, atualmente demostra ser um guerreiro faz 3 faculdades!! Uma federal a distancia, outra presencial e pós graduação. Tenho mt admiração por ele e o amo demais, apesar de ser uma pessoa como ele é, mas confesso que isso é um segredo para mts da nossa convivência, pois o derrespeito é demais, não quero ninguem chamando meu marido de louco. catia-cris@ig.com.br

Márcia Haydée disse...

Vc sabe que há sindicato de escolas querendo se manifestar contra a novela alegando que estão mostrando uma imagem errada da escola? Pois é... ouvi isso de uma dona de escola e fico chocada com a falta de capacidade de autocrítica que temos, pois há mesmo muitas escolas que não dão conta das suas questões, exatamente como a novela mostra. A novela incomoda porque mostra a realidade, ao invés de discutirmos formas de resolver as questões é muito mais fácil calar quem as mostra, não é mesmo??? Que feio... mas a sua postagem foi ótima, esclarecedora e justa. Bjs.