domingo, 15 de março de 2009

Quando a Loucura Quebra a Dor


Hoje vivi um momento muito interessante e para mim especial. Um dos moradores do meu projeto de moradias assistidas, o D., ficou doente e acabou internado num CTI. Fui visitá-lo acompanhada de seu colega de casa, o A. Ele é esquizofrênico e um homem simpático, um bom pintor e adorável pessoa.
A. não pôde entrar no CTI. O horário de visita havia acabado. Só eu pude entrar, pois sou médica. Fiquei um certo tempo lá dentro. Quando entrei, a sala de espera estava repleta de pessoas entristecidas, afinal quem estava ali tinha alguém que ama num CTI. Vi pessoas com lágrimas nos olhos e rostos cansados. Quando sai o clima estava totalmente diferente ...
A. é um grande contador de histórias ... Ele ficou ali me esperando e contando histórias para as pessoas. Quando abri a porta do CTI ouvi risadas e isso me surpreendeu... Quando entramos no elevador A. me disse que resolveu alegrar as pessoas ... Na sua loucura A. fala com todo mundo, puxa assuntos, não tem vergonha. No meio de tanta tristeza, ele com suas histórias, desviou toda aquela gente de sua dor... Deu a elas algum motivo para sorrir... Ele mesmo me disse que uma moça que antes chorava, agradeceu-lhe por tê-la feito sorrir.Tão bonito ver que, por vezes, a loucura ajuda na produção de alegria... Sua falta de inibição, sua fala sem parar, suas histórias exageradas podem ter vários nomes técnicos num exame psicopatológico, mas ali seu jeito louco de ser não foi visto como doença, foi sentido como algo que interrompeu, por alguns minutos, o sofrimento de muita gente... A loucura também tem esse lado mágico; é preciso dar uma chance ao sujeito que enlouquece para transformar o que é devastador em suavidade. A. é um exemplo de como isso é possível.

5 comentários:

Márcia Haydée disse...

Nossa!
Que incrível!
Como pode ninguém comentar esse post???
Ei, você que visita este blog, comente esta história, ela é linda.

Pat, você me encanta. Este post me emocionou.
Um beijo no A. Um beijo muito carinhoso e sorridente no A.

Anônimo disse...

Querida
Só alguém incrivelmente vocacionada e dedicada relataria de maneira tão sensível uma situação igual a essa.Que menino esse A. Que linda atitude,amenizando a dor dos outros com suas histórias... Como podem chamar de "louco",uma alma com tamanha magnitude... Beijos

Anônimo disse...

Pat, que texto lindo e que sensibilidade vc tem !
A história nos faz ver como perde- mos por não dar oportunidade aos que são diferentes e que têm muito
a nos ensinar!A falta de informação e o preconceito medroso de achar o doente mental, como alguém perigoso,nos priva de momentos ternos e compensadores, com o que foi narrado.
Um beijão em vc e no A.
Com muito carinho da tia Maria.

In Pressões disse...

Oi Patrícia! Cheguei a seu blog através do do Bruno. E concordo com a Márcia; tem q se comentar esse post! Sou fonoaudióloga e me emocionei ao saber que a fala de A curou, mesmo que por instantes, a dor daquelas pessoas. A gente fica presa no fato da linguagem ser uma das expressões do pensamento, mas ela tb é do sentimento! E quanto sentimento no caso de A. e no seu tb, q tem um blog lindo! Voltarei mais vezes! Parabéns! Bjs!

Chiz disse...

Sinto que nasci pra ter um comportamento semelhante ao d A. mas ainda não aprendi a ser o suficientemente louco... mas dizem que eu tenho jeito!